Assisti Fome de Poder e fiquei vidrada na história. Michael Keaton está excelente como Ray Kroc, um vendedor persistente que transforma o restaurante dos irmãos McDonald em uma das maiores redes de fast food do planeta. O filme, baseado em fatos, mostra os bastidores dessa ascensão e coloca em pauta uma série de dilemas: ambição, ética, visão de negócio e o custo do sucesso.
Um dos pontos mais interessantes é o contexto em que tudo acontece. Nos anos 1950, os Estados Unidos viviam o auge do otimismo pós-Segunda Guerra Mundial. As cidades cresciam, o consumo era incentivado e o “sonho americano” ganhava força. A vida nos subúrbios se consolidava, o carro virava símbolo de liberdade e as famílias buscavam soluções práticas no dia a dia. O fast food se encaixava perfeitamente nesse novo estilo de vida.
Os irmãos McDonald foram geniais ao criar o “Speedee System”, uma linha de montagem dentro da cozinha. Era rápido, padronizado e eficiente. Esse sistema reduzia custos, acelerava o preparo dos alimentos e entregava sempre a mesma qualidade. Isso deu origem ao modelo de fast food como conhecemos hoje. Uma verdadeira revolução no setor alimentício.
Mas inovação não basta. O que fez o McDonald's explodir foi a visão de Ray Kroc. Ele enxergou o potencial de transformar aquele restaurante local em uma rede nacional — e depois global. Só que, para isso, ele precisou tomar decisões difíceis e, muitas vezes, questionáveis. O filme mostra como a busca por sucesso pode esbarrar (ou atropelar) a ética. É o tipo de conflito que ainda hoje é comum no mundo dos negócios: o que fazer quando crescer significa abrir mão de certos valores?
Outro ponto que me marcou foi a tensão entre visão e essência. Os irmãos McDonald tinham a alma do negócio. Criaram algo funcional, acessível e verdadeiro. Ray Kroc tinha a ambição e a estratégia para expandir. O problema é que, no processo de crescimento, a essência inicial se perdeu. E essa é uma dificuldade real para muitas empresas que começam pequenas e depois ganham escala. Como manter o que te torna único quando o mundo começa a prestar atenção?
Também achei muito interessante como o filme subverte a clássica jornada do herói. Ray começa como um homem comum, um vendedor frustrado. Enxerga uma oportunidade, enfrenta conflitos com os criadores da ideia original, passa por uma virada estratégica e, no final, alcança o topo. Mas com um custo alto. Ele termina mais como vilão do que como herói.
O mais provocador de tudo é que, no fundo, Fome de Poder é sobre narrativa. Ray Kroc não teve a melhor ideia. Ele não inventou nada. Mas foi quem contou a história que ficou. Ele entendeu que o mundo dos negócios nem sempre premia quem cria, mas sim quem sabe comunicar, persuadir e controlar a narrativa. E isso continua sendo verdade.
Mariana Menezes
18/06/2025