
Participar de um debate sobre “O presente e o futuro do jornalismo”, é quase que assistir a um episódio Game of Thrones e ouvir a célere frase: the winter is coming. Leão Serva lembrou que, desde que existe, o jornalismo é cercado de ameaças: no passado, o diploma não era obrigatório; depois veio a internet e anunciou-se o fim dos jornais; em seguida, os influenciadores digitais pareceram roubar o espaço dos jornalistas; agora, a Inteligência Artificial surge como a nova vilã. Cada etapa foi descrita como o possível colapso da profissão – mas seguimos aqui, adaptando-nos e encontrando novas formas de exercer nosso ofício.
Uma participante da plateia levantou um ponto que ecoa em muitas faculdades: há cada vez menos jovens interessados em cursar jornalismo. A provocação abre outra pergunta – precisaremos do mesmo número de jornalistas que já tivemos? Talvez não. O modelo de redações infladas, sustentadas por grandes verbas publicitárias e voltadas a um público de massa, vem perdendo lugar para operações mais enxutas e especialistas em nichos. O “jornal do futuro”, na verdade, se parece com o jornal do passado: menos dependente de publicidade e mais sustentado pelo leitor que paga por conteúdo relevante ao seu universo, seja regional, seja temático.
Isso não significa, porém, que devamos esperar a próxima avalanche tecnológica sentados, torcendo para que tudo continue igual. O histórico de reações a novos meios é ilustrativo: primeiro foi a TV ― temia-se que alienasse as massas; depois a internet seria a ruína da atenção; agora a IA desperta fascínio e pânico na mesma medida. A realidade mostra que tais ondas passam e deixam lições valiosas: quem domina a novidade ganha eficiência, aprofunda a apuração e entrega formatos que dialogam melhor com públicos específicos. A IA já acelera transcrições, ajuda na checagem de dados, personaliza newsletters e libera tempo para reportagem de fôlego. A ameaça maior recai sobre quem ignora essas possibilidades.
Nesse cenário, algumas competências se tornam inegociáveis. A curadoria de informações — filtrar o que realmente importa em meio ao ruído — vale ouro. Agregar contexto e explicar por que determinado fato afeta a vida das pessoas continuará sendo nossa razão de existir. O relacionamento com comunidades ganha centralidade: leitores deixam de ser audiência passiva e passam a participar enviando pautas, apontando erros, financiando o veículo. Por fim, alfabetização em dados e IA entra no kit básico de sobrevivência. Conhecer limitações e vieses dos algoritmos será tão fundamental quanto checar fontes humanas.
Redações menores não equivalem a jornalismo fragilizado; indicam, sim, times que trabalham de forma mais colaborativa, com repórteres que também editam vídeo, designers que compreendem programação e freelancers especialistas convocados conforme a demanda. O foco migra da quantidade de páginas ou minutos de noticiário para o impacto sobre comunidades bem-definidas. E, à medida que a publicidade tradicional migra para plataformas, cresce a convicção de que o ativo mais valioso de uma marca jornalística é a confiança. O leitor disposto a pagar exige transparência sobre critérios editoriais, erros assumidos publicamente e clara separação entre conteúdo e propaganda.
Tudo isso reforça minha visão, talvez Pollyanna, de que haverá espaço para todos — mas apenas para quem estiver disposto a aprender continuamente. Dominar IA, redes sociais e marketing de influência oferece uma vantagem, mas nada substituirá o olhar crítico, a ética e o compromisso com a verdade. Portanto, em vez de temer o próximo “inverno”, vale ajustar nosso kit de sobrevivência: manter-se atualizado em tecnologias emergentes, conectar-se genuinamente às comunidades que queremos servir e experimentar modelos de negócio alternativos, como newsletters pagas, cursos e eventos. Quando a estação gelada passar, o jornalismo que restar será mais resiliente, voltado ao leitor e sustentado pela confiança — exatamente como tem sido, em diferentes formatos, desde sempre.
O tema foi discutido em evento organizado pelo Jornalistas & Cia e contou com a participação de Leão Serva, Carla Jimenez, Ricardo Gandour e Veronica Goyzueta! Obrigada à Sing Comunicação pela oportunidade de estar presente em mais esse.
Janaina Leme
Partner and Head of PR
05/11/2025
Sing Comunicação - Agência de PR no Brasil, México e Latam, especializada em tecnologia, inteligência artificial, assessoria de imprensa, gestão de reputação de marcas e estratégias de mídia para empresas globais.
PR Agency Brazil | PR Agency Latam

