Por Nathalia Alcoba
Durante o lançamento da Taça das Favelas, organizado pela Central Única das Favelas (CUFA), tive a oportunidade de participar de um workshop sobre saúde mental e autocuidado, liderado por um time de mulheres inspiradoras, com trajetórias em diferentes áreas do esporte e da psicologia.
Apesar do foco esportivo do evento, as reflexões compartilhadas ali ultrapassam qualquer campo. São aprendizados que tocam quem somos no dia a dia: em casa, no trabalho, nas relações. Porque, no fundo, cuidar da mente é cuidar da vida e isso importa para todos nós.
Durante o bate-papo, a psicóloga Andressa Silvestre comentou: “Antes separávamos o treino físico do treino mental. Hoje, já entendemos que não dá mais para deixar a mente de fora.”
Ela falava do contexto dos atletas, mas acredito que isso vale perfeitamente para o mundo corporativo e para nossa rotina pessoal. Quantas vezes negligenciamos nosso estado emocional em nome da produtividade, da entrega, do resultado?
A pauta toda girou em torno da importância de cultivar pequenas atitudes de autocuidado, como dormir bem, alimentar-se direito, fazer pausas, ter momentos de lazer, nomear sentimentos e até pedir ajuda.
Simples? Talvez. Mas, em um mundo que valoriza o excesso e o “dar conta de tudo”, isso se torna quase um ato de resistência. Como foi dito: “Autocuidado é uma escolha diária.” É decidir, conscientemente, olhar para si, reconhecer seus limites e agir com empatia consigo mesmo, antes de tudo.
Na correria do dia a dia, raramente paramos para pensar. Mas, durante a palestra, me identifiquei e me questionei em vários momentos. Uma fala da diretora de futebol feminino da Federação Paulista de Futebol, Kin Saito, me marcou: “A beleza do que vivemos hoje é poder dizer ‘não estou bem’ sem medo, sem vergonha, porque pedir ajuda é o maior ato de coragem.”
Como falei, embora a palestra tenha sido promovida em um contexto esportivo, o que presenciei ali foi um convite para olhar para dentro, com gentileza. Para acolher a si. Para oferecer mais escuta a quem está ao redor.
Em tempos de memes e de brincar com o caos interno, precisamos relembrar que saúde mental não é “plus”, nem “mimo”; é necessidade, é acolhimento, é coragem.
Seja na quadra, no campo, no escritório ou em casa, todos enfrentamos pressão, frustrações, expectativas. E todos precisamos de apoio emocional — afinal, ninguém performa bem se está emocionalmente exausto.
Por último, mas não menos importante, outro ponto do debate foi o impacto das redes sociais na nossa saúde emocional. Assim como acontece com atletas e pessoas públicas, muitos de nós também temos a autoestima e o emocional abalados por comentários ou comparações no ambiente virtual.
Naquele momento da semana em que a gente não está bem, mesmo recebendo vários feedbacks positivos e conquistando coisas importantes, basta um comentário negativo — uma única coisa que seja — para estragar o dia completamente.
A pergunta que fica é: quanto do seu valor você tem colocado nas mãos dos outros? Na validação externa?
E, se é tão comum oferecer uma palavra amiga aos outros ou até absorver facilmente a opinião alheia (especialmente quando é negativa), por que não fazer isso por nós mesmos?
Por que não refletir sobre nossos limites e aprender a construir uma relação mais saudável com o mundo digital e conosco? Mais presença, menos comparação. Pode parecer clichê, mas é a famosa ideia de “olhar o copo meio cheio”.
Se você chegou até aqui, que esse seja o convite que recebi na palestra e que hoje deixo para você: faça algo por você. Nem que seja algo que pareça pequeno, simples, mas que será inteiro. Peça ajuda como ofereceria a alguém, cuide de você como cuida de um projeto importante e respeite seus limites como respeita seus prazos. Porque só quando nos cuidamos de verdade é que conseguimos estar realmente presentes (e produtivos) com a nossa própria vida.
11/06/2025