Adolescência sob os holofotes: o que a série nos ensina sobre juventude, imagem e responsabilidade

Recentemente, foi realizado na Sing Comunicação um encontro do nosso Clube de Cultura para discutir Adolescência, minissérie britânica dirigida por Philip Barantini que mergulha nas complexas dinâmicas familiares e sociais após uma acusação grave envolvendo um jovem de 13 anos. A narrativa é centrada na família Miller, cuja rotina é abruptamente transformada quando Jamie, o filho, é acusado de assassinar uma colega de escola. A trama se desenrola sob múltiplos pontos de vista: o do pai Eddie, em conflito entre proteção e dúvida; o da psicóloga Briony Ariston, empenhada em compreender o comportamento de Jamie; e o do inspetor Luke Bascombe, que conduz uma investigação sob intensa pressão da mídia. 

Para além do suspense e da carga dramática, a série oferece uma lente poderosa para refletirmos sobre os desafios contemporâneos da adolescência — especialmente diante do ambiente digital. Em um mundo atravessado por algoritmos e plataformas de visibilidade constante, os adolescentes não são apenas usuários, mas também produtores e curadores da própria imagem. Essa construção identitária mediada por telas pode intensificar vulnerabilidades emocionais, especialmente quando somada à busca por pertencimento, ao medo de exclusão e à pressão por aceitação. 

Durante o encontro, discutimos como a série lança luz sobre essa tensão entre o espaço íntimo e o público — entre o que se é e o que se mostra — e como isso reverbera nas relações familiares. A crítica cultural Isabela Boscov, em vídeo analisado durante o clube, destacou a forma como Adolescência evita respostas fáceis, apostando em uma abordagem realista e inquietante. A série se recusa a reduzir seus personagens a estereótipos, abrindo espaço para que o espectador reflita sobre os limites da empatia, da responsabilidade e da verdade. 

Contamos também com contribuições valiosas das psicólogas Shirlei Gazetta e Edinete Nogueira que enviaram vídeos com suas análises. Ambas ressaltaram o quanto o universo adolescente exige escuta ativa, atenção aos códigos de linguagem próprios e um olhar atento às transformações subjetivas provocadas pela cultura digital. Mais do que vilanizar a tecnologia ou idealizar o passado, o desafio está em construir pontes de diálogo - mesmo quando o silêncio, como mostra a série, parece gritar mais alto. 

Adolescência não é uma série sobre culpados ou inocentes. É sobre a complexidade de crescer em um mundo onde a privacidade é frágil, os julgamentos são rápidos e os afetos, muitas vezes, atravessados por ruídos que nem sempre conseguimos decifrar. O Clube de Cultura foi uma oportunidade rica para refletirmos, juntos, sobre essas camadas e sobre nosso papel, como comunicadores, na escuta e na tradução de temas que tocam a sociedade de maneira tão profunda. 

*Isadora Fernandes  

 


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