Recentemente, Edgar Leite Elegância, editor do jornal Diário de Suzano, conversou com a equipe da Sing Comunicação sobre a ética no jornalismo diante das possibilidades e desafios trazidos pela Inteligência Artificial (IA).
Durante a conversa, Edgar ressaltou que o problema atual da sociedade diante da IA não está no avanço da tecnologia em si, mas no modo como ela é utilizada: “É necessário regular a tecnologia, mas permitir que ela avance. Esse é o grande desafio atualmente”.
No Brasil, o Congresso Nacional tem debatido projetos de lei para regulamentar o uso da Inteligência Artificial. Enquanto a legislação não é finalizada, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) adotou medidas específicas para as eleições de 2024. Entre elas, proibiu-se o uso de deepfakes nas campanhas e tornou-se obrigatória a identificação de áudios e vídeos gerados por IA, ainda que sem conteúdo malicioso, para garantir transparência junto ao eleitorado.
Essa reflexão levanta uma questão essencial: se o desafio é controlar sem impedir descobertas, como podemos utilizar a Inteligência Artificial a nosso favor e de forma ética?
A saída mais sensata e desafiadora seria buscar um caminho no qual a Inteligência Artificial atue como ferramenta de apoio aos seres humanos, sem que estes se tornem dependentes ou subordinados a ela. Em outras palavras, manter a tecnologia sob o controle humano, garantindo sempre a possibilidade de “desligar da tomada quando necessário”.
Como fica o trabalho jornalístico nesse cenário?
Uma pesquisa realizada no Brasil em 2024 apontou que 56% dos jornalistas já utilizam a inteligência artificial em atividades como produção de conteúdo, apuração de informações, distribuição e operações comerciais. O estudo, conduzido pelo grupo de pesquisa Tecnologias, Processos e Narrativas Midiáticas da ESPM, também revelou que 38,3% dos profissionais se posicionam contra o uso da IA no exercício da profissão.
Por mais que simplifique tarefas cotidianas e auxilie em trabalhos complexos, a IA não pensa por si só. Os jornalistas que utilizam IA ainda fazem a maior parte do seu trabalho: precisam encontrar fontes, entrar em contato, ter bons relacionamentos, apurar, reportar e ser criativo. Manter o contato humano é - e continuará sendo - uma atribuição insubstituível.
A IA é, possivelmente, a tecnologia de informação mais poderosa da história, mas ela é alimentada por banco de dados e não tem virtudes do ser humano, como a aprendizagem que se acumula ao longo do tempo, e uma das mais importantes, não é capaz de reconhecer quando não sabe algo.
Essa conversa nos fez refletir que ser autêntico é também assumir vulnerabilidades e imperfeições. Dizer “não sei” não é sinal de fraqueza, mas sim de transparência e de um desejo genuíno de buscar aprimoramento - algo profundamente humano.
Na Sing Comunicação, acreditamos que a ética na comunicação passa por reconhecer os limites das ferramentas e valorizar o que só os humanos podem oferecer: sensibilidade, escuta, responsabilidade e a coragem de fazer as perguntas certas, inclusive quando ainda não temos todas as respostas.
Afinal, mais do que dominar novas tecnologias, comunicar com responsabilidade é saber quando é preciso ouvir, refletir e, se necessário, dizer: “ainda não sei - mas vou descobrir”.
*Por Amanda Laurentino
26/06/2025